Bernardo Sassetti: um contador de histórias


Pelas atmosferas que criou e pelas imagens que desfiou, ele podia ter sido pintor, escritor ou, quiçá, realizador de cinema. Aqui para nós que ninguém nos ouve - ainda bem que tal não aconteceu!...
Chegou tímido e cabisbaixo por entre a penumbra e as sombras que os dois focos de luz produziam. A sua voz, tal como as suas mãos, agarravam com insegurança o microfone com que se apresentava a um público heterógeneo que preenchia por completo o auditório da Academia de Música de Espinho.
Com uma humildade desarmante, confessou-se um intérprete que gosta da liberdade total de criar e recriar e que se sente muito bem quando tece variações e improvisações sobre as obras.Titubeante, agradeceu o convite formulado para participar no Festival internacional de Música de Espinho e, já sentado frente ao piano, ainda complementou: "Ah!, esqueci-me de dizer - esta sala é magnífica!".
Depois, bem, depois submergiu-se completamente no piano como se homem e instrumento fossem um só. E libertou-se. Com esse fiel companheiro e com as suas mãos de andarilho de ritmos e de ambientes, levou-nos a lugares e povoados nunca dantes calcorreados, prenhes de bulício, de cores, de sons, de vida, enfim, de tempo.
Hora e meia depois voltou à tona da noite. Renovado. Depois de nos ter presenteado com uma viagem musical onde coube quase tudo: desde lances de experimentação pura na cauda do piano até composições com um cherinho a fado ou um toque de bossa nova.
Que não restem dúvidas: Bernardo Sassetti só se sente completamente à vontade quando as suas mãos falam com as teclas e as cordas do piano e este, amigo de infindáveis caminhos, lhe relata as peripécias que compõem o seu álbum de recordações.
Um contador de histórias é o que ele é!

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