Edgar Carneiro: irmão do mar, filho dos montes...


"Desaperto as grades
Com a mão segura
E liberto as aves.

Elas sobem tontas;
Rodopiam livres;
E, serenas, partem
Para além dos montes.

São apenas pombas,
Ou a profecia
De mudança breve?

Entretanto, espero;
E na tarde fria
Vai ardendo a neve."


"Mudança", poema de Edgar Carneiro, in "A Faca no Pão", edição & etc - Publicações Culturais Engrenagem, Lda., 1981

http://nota20.webege.com/jan2011_n02_p01_m.html

Fotografia de Filipe Couto - http://www.espinho.tv/

Casa-mãe

Escuta atentamente o coração das coisas inanimadas.
Repara como se inclinam à passagem dos astros.
No dorso da casa, mãe, os objectos vibram
a membrana de uma asa, o golpe de um navio.

Vê com as tuas próprias mãos.

Os alicerces do corpo rangem ainda a ausência dos cálidos gestos.
Fendas de luz que não me deixam partir.

Texto de V. Solteiro

O nome das nuvens

Finda o dia
na pálpebra da nuvem
e já a estrela polar
olhar cativo na combustão
do corpo celeste
clama pelo solstício
do teu nome

Texto e fotografia
de V. Solteiro



À volta...

Ainda que tudo à volta
desfaleça
e te pareça mudo
há sempre um rumo.

Sabes:

Também a rosa
cresce a prumo.




Texto de V. Solteiro

Fotografia de Svetlana Vollevskaya