Verde que te quero verde *

Foto de V. Solteiro
Parque Nacional da Peneda-Gerês
* título do post roubado a um verso de Federico Garcia Lorca


En-cruz-ilha-da


"Quanto mais estradas, menos visitamos os outros."


in "Venenos de Deus, Remédios do Diabo", de Mia Couto, Editorial Caminho, 2008


"Crossroads", fotografia de Olga Dunaeva, in http://www.photoforum.ru/

Translúcida vertigem

"[que em nada baste

que as pa lavras se des tapem

dos seus corações em cio

e mergulhem facílissima mente

no domínio comum das bocas

seta recta a perfurar códigos de espaço

(apont ar >"

Poema de Rosasiventos - http://rosasiventos.blogspot.com/

Foto de V. Solteiro

Parque Nacional da Peneda-Gerês

A face do mundo...



"(...) Só a imaginação transforma, transfigura e remodela a face do mundo."



Eduardo Lourenço, ensaísta, in "O Labirinto da Saudade", Publicações Dom Quixote, Novembro de 1988



"Sea Palette", fotografia de Yuri B., in http://www.photoforum.ru/

Sonho anulado...



"- Cure-me de sonhar, Doutor.
- Sonhar é uma cura.
- Um sonhadeiro anda por aí, por lonjuras e aventuras, sei lá fazendo o quê e com quem...Não haverá um remédio que me anule o sonho?"

in "Venenos de Deus, Remédios do Diabo", livro de Mia Couto, editora Caminho

Fotografia sem título da autoria de Swiatek Wojtkowiak, in http://www.photoforum.ru/

Luz de (a)fecto

"deixar o musgo da harmonia cobrir
a pedra por polir dentro de nós."
Poema de Icendul
Foto de V. Solteiro
Parque Nacional da Peneda-Gerês

À porta do amor...


"Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
figas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizede um pouco
- tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam á porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me importa que batam à porta...»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.


Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.


Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?"


"Seria o Amor Português - Variações sobre um fado", poema de Fernando Assis Pacheco


"Magic door", fotografia de Max Lomov, in http://www.photoforum.ru/

Assim se vive...


"Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...


Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...]"


"Epígrafe", poema de Eugénio de Castro

"The sun, wind and sand", fotografia de autor não identificado, retirada de http://www.photoforum.ru/

Um rosto lavrado...

"Às casas, às nossas lavras
às praias, aos nossos campos
havemos de voltar

Às nossas terras
vermelhas do café
brancas do algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar

Às nossas minas de diamantes
ouro, cobre, de petróleo
havemos de voltar

Aos nossos rios, nossos lagos
às montanhas, às florestas
havemos de voltar

À frescura da mulemba
às nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar

À marimba e ao quissange
ao nosso carnaval
havemos de voltar

À bela pátria angolana
nossa terra, nossa mãe
havemos de voltar

Havemos de voltar
à Angola libertada
Angola independente"


"Havemos de Voltar", poema de Agostinho Neto, escrito na cadeia do Aljube, Outubro de 1960

"Refugees in Mbanza Congo, Angola", fotografia de Alfredo Leite, in http://www.photoforum.ru/

Um amor sem juros...


"- Perguntava eu, Dona Munda, sobre o seu marido...
- Está muito mal. O sal já está todo espalhado no sangue.
- Não é sal, são diabetes.
- Ele recusa. Diz que se ele é diabético, eu sou diabólica.
- Continuam brigando?
- Felizmente, sim. Já não temos outra coisa para fazer. Sabe o que penso, Doutor? A zanga é a nossa jura de amor."



Excerto do livro de Mia Couto, "Venenos de Deus, Remédios do Diabo", Editorial Caminho, 2008

"Love", fotografia de Cláudia Fernandes, in http://www.photoforum.ru/