O tronco e o ombro...

Longe iam os dias em que,
manhã bem cedo,
aspirava o perfume da esteva e,
qual amante zeloso,
calcorreava minuciosamente
os caminhos e os trilhos da montanha,
em busca dos frutos da terra.
Ela era o tronco, o seu esteio.
O ombro confidente onde pousava
o corpo dos seus pensamentos...
Texto e fotografia de V. Solteiro

O arco e a íris...


flecha
arqueando
o peito
do crepúsculo
a íris
liquefaz
o esférico
mineral
do silêncio



no cimo
do arco
no fundo
da corrente
abro
as oceano
gráficas
pupilas
dos corais


Poema de V. Solteiro

"Rainbow", fotografia de John Aavitsland


A trama e a rama...


esteio de uma aérea e antiquíssima
arquitectura
a aranha
fia na rama
um lençol
de orvalho


nas suas dobras
borda
um alfobre
de translúcidos
fios de prumo
Poema de V. Solteiro
"Neclace of mister spider", fotografia de Sergey Amelin

O perfil dos minerais...


(A meus pais)
calejadas pelo ardor do sal
as mãos
fincam na terra
o pomo da ternura


na progenitora lâmina
da enxada
elas desvelam
o perfil dos minerais


Poema de V. Solteiro


"Paysan à la houe", quadro de Georges Seurat, 1882
Foto retirada daqui:

O nome do poema...



línguas no tempo
submergidas
os limos
assomam ao sopé
das águas
para aspirar o oxigénio
dos nénufares


assim os bagos das ideias
na leira
da cabeça

Poema de V. Solteiro

Fotografia de Lynn Vichl