As coisas sangram como as pessoas...

"A verdade está nas coisas e não em nós, dizia. Mas precisa de nós para se manifestar. (...) As coisas, ouviu-lhe Faulques murmurar uma vez, sangram como as pessoas. Uma das suas obsessões eram as fotografias encontradas em casas devastadas. Fotografava-as tal como estavam, sem tocar nelas ou arranjar composições: pisadas, chamuscadas pelos incêndios, penduradas e torcidas na parede com vidros ou molduras partidas, álbuns familiares abertos e desfeitos. As fotografias abandonadas, afirmava, são como as manchas claras num quadro tenebrista: não iluminam, antes escurecem as sombras (...)."


in "O Pintor de Batalhas, de Arturo Pérez-Reverte, Edições ASA

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