A arquitectura das imagens II
Área de Paisagem Protegida das Lagoas
de Bertiandos e S. Pedro de Arcos
"(...) lançam no coração humano um pássaro
estonteante
de luz"
Pensamento de Maat
Sem memória...
"Um povo sem memória é um povo condenado a perder a sua identidade. Esse esquecimento da história, passada e recente, é uma porta aberta para aquelas situações que tipificam a morte dos direitos humanos. Portugal convive mal com os seus fantasmas. Décadas de ditadura produziram os seus crimes, mataram as liberdades, condenaram a pátria à subalternidade cívica. O 25 de Abril libertou-nos , mas [hoje] já é olhado como velha arqueologia.
Fernando Paulouro das Neves, in "Jornal do Fundão"
"Gone with the wind", fotografia de Sandra battaglia, in http://www.photoforum.ru/
Felizmente há luar!
"Andamos azedos, mal dispostos, irritados com a vida e com o próximo e comportamo-nos de acordo com a irritação que temos contra tudo e contra todos. A verdade é que Portugal é um país muito pequeno, e os cães são muito grandes e muitos para o tamanho do osso; é um país que oscilou sempre entre duas coisas horríveis: uma hipótese de integralismo lusitano e o ‘intigralismo lusitano’, em que vivemos todos desde sempre."
Luís de Sttau Monteiro, escritor
"Moonlight Diana Temple", fotografia de José Luís Mendes, in http://www.photoforum.ru/
As correntes do medo...
"Criticar já foi delito de opinião. A critica tinha então carácter subversivo. Agora, a mansa resignação é a ilha que nos cerca. A intervenção cívica tornou-se fenómeno de grande debilidade, uma espécie de medo climatizado instalou-se à nossa volta. São cada vez menos os que levantam a voz."
Fernando Paulouro das Neves, in "Jornal do Fundão"
Fernando Paulouro das Neves, in "Jornal do Fundão"
"Iron Oxide (The chains that bind)", fotografia de Billy Holmes, in http://www.photoforum.ru/
Dentro dos cravos...
"Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado"
"Cantata da Paz", poema de Sophia de Mello Breyner Andressen
"Inside the carnation", fotografia de Danny, in http://www.photoforum.ru/
Ler a vida...
"Ler, ler, ler a vida que outros sonharam."
Miguel de Unamuno, escritor, poeta e filósofo espanhol
"Seven books", fotografia de Frangel, in http://www.phoforum.ru/
O que resta...
"O mundo está fechado. Fora dele já não há aventura. As fronteiras estão a desaparecer e as que restam estão vigiadas por funcionários iguais: mercenários da empresa da normalização das vidas que nos numeram, nos vigiam e nos destroem. A única aventura que nos resta é a nossa aventura interior."
António Alçada Baptista, in "O Riso de Deus"
"The last kiss", fotografia de Roberto Palladini, in http://www.photoforum.ru/
O (des)nível da pele...
"Ficávamos no quarto até anoitecer, ao conseguirmos]
situar num mesmo poema o coração e a pele quase podíamos]
erguer entre eles uma parede e abrir
depois caminho à água.
Quem pelo seu sorriso então se aventurasse achar-se-ia]
de súbito em profundas minas, a memória
das suas mais longínquas galerias
extrai aquilo de que é feito o coração.
Ficávamos no quarto, onde por vezes
o mar vinha irromper. É sem dúvida em dias de maior]
paixão que pelo coração se chega à pele.
Não há então entre eles nenhum desnível."
"Paixão", poema de Luís Miguel Nava
"The green skin of earth", fotografia de Victor, in http://www.photoforum.ru/
Melancolia...
"Melancolia
- nostalgia de deus."
"O Silêncio de Deus/P.", poema de Ana Marques Gastão
"In the begining God created the heaven and the sea", fotografia de Sergey Afanasiev, in http://www.photoforum.ru/
As mãos da chuva
"nestes dias de frio londrino apetece ficar em casa
abrir um livro fechá-lo para o segurar ao colo
ficar na cadeira de repouso um pouco mais
ouvir as folhas dos pequenos arbustos
olhar de novo a pintura a óleo que sei de cor
enquanto vai anoitecendo no zumbido
de algum insecto vindo lá de fora do jardim
ou o tic-tac do relógio que se cola ao coração
em poemas de afecto
silenciosos
escondidos entre mãos"
"nestes dias de frio londrino", poema de Maria Azenha, in "A Chuva nos Espelhos", edição Alma Azul, Fevereiro de 2008
Fotografia sem título de Natalija Pajalina, in http://www.photoforum.ru/
Reflexos do mistério...
A casa onde às vezes regresso...
"A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
tivesse ainda tempo e entregava-te
"A casa onde às vezes regresso", poema de José Tolentino de Mendonça
"Rain in windows", fotografia de Farid Khousainou, in http://www.photoforum.ru/
O maravilhoso não escurece...
"Quando a noite chega o maravilhoso não escurece."
Gonçalo M. Tavares, poeta e escritor
"Night reflection etude", fotografia de Rafael Ramirez Lee, in http://www.photoforum.ru/
Creio...
"Creio nos anjos que andam pelo mundo
Creio na deusa com olhos de diamante
Creio em amores lunares com piano ao fundo
Creio nas lendas nas fadas nos atlantes
Creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes mais dissonantes
Creio que tudo é eterno num segundo
Creio num céu futuro que houve dantes
Creio nos deuses de um astral mais puro
na flor humilde que se encosta ao muro
Creio na carne que enfeitiça o além
Creio no incrível nas coisas assombrosas
na ocupação do mundo pelas rosas
Creio que o amor tem asas de oiro amen"
"Credo", poema de Natália Correia
"Angels beside us", fotografia de Igor Kovalyov, in http://www.photoforum.ru/
Sub-verter...
"Não sei o que exige maior coragem:sobrevivermos a um teste de resistência que dura uma vida inteira só porque se fez uma promessa, ou libertarmo-nos, subvertendo todo o nosso mundo. Há argumentos para ambas as hipóteses; eu compreendo isso. Mas fiz a minha escolha."
Anne Tyler, escritora, in "Navegação Celestial"
"The liberty", fotografia de Cheh, in http://www.photoforum.ru/
Tão perto...
"(...) tão perto sinto-te, tão perto
Como se numa foram duas vidas."
Excerto do poema de Vinicius de Moraes, "Soneto a Katherine Mansfield", Rio de Janeiro, 1937, inserto no "Livro de Sonetos", edição "Companhia das Letras"
"Close and calm", fotografia de Gregor Schul.z, in http://www.photoforum.ru/
Primavera
De um trago
bebo a volúpia
instável e derradeira
no magma incandescente
do teu revolto corpo
É um vulcão de possibilidades
aquele que ofereces
com as mãos repletas
de romãs
Na ânsia de tocar
o longe
que ficou colado á pele
abraço o celeste tronco
de onde brotam
tão cálidos frutos
Assim unidos
somos seiva
da mesma carne
mel da mesma flor
de rosmaninho
Poema e fotografia
de V. Solteiro, 19.04.06
Germinação
lavras
as palavras
com o arado
lunar
Nua
espiga
trigueira
sequiosa
do ardor
do estio
lanças
os grãos
à seara
dos gestos
irrigas
mondas
ceifas
ceifas
colhes
é fruto
do sangue
o astro
que acaba
de germinar
V. Solteiro, 11.04.08
"Evening ear", fotografia de Vechniy, in http://www.photoforum.ru/
As asas da liberdade...
"Chama-se liberdade o bem que sentes,
Águia que pairas sobre as serranias;
Chamam-se tiranias
Os acenos que o mundo
Cá de baixo te faz;
Não desças do teu céu de solidão,
Pomba da verdadeira paz,
Imagem de nenhuma servidão!"
"Preservação", poema de Miguel Torga, Serra da Estrela, 27.02.60
"Golden Eagle", fotografia de aasmund toe, in http://www.photoforum.ru/
Resistir...
"Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha
Geme e trabalha
Até cair."
"Comunicado", poema de Miguel Torga, Coimbra, 18.04.61
"Not so long", de mdscar, in http://www.photoforum.ru/
Nesse caminho duro do futuro...
"Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os me liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças."
"Sísifo", poema de Miguel Torga, Coimbra, 27.12.77
"Steps", fotografia de Nathan Kern MD, in http://www.photoforum.ru/
Raízes...
"O destino plantou-me aqui
e arrancou-me daqui.
E nunca mais as raízes
me seguraram bem em nenhuma terra."
Miguel Torga
"Roots", fotografia de Sergei Khlopchur, in http://www.photoforum.ru/
Segredo...
Ter um destino...
"Ter um destino
é não caber no berço
onde o corpo nasceu,
é transpor as fronteiras
uma a uma
e morrer sem nenhuma."
Miguel Torga, in "Fernão de Magalhães", Antologia Poética, Lisboa, Editora Dom Quixote, 1999
"Destiny", fotografia de Jorge Voronin, in http://www.photoforum.ru/
De uma tal pureza...
"Carta de minha Mãe.
Quando já nenhum Proust sabe mais enredos,
A sua letra vem
A tremer-lhe nos dedos.
- 'Filho'
E o que a seguir se lê
É de uma tal pureza e de um tal brilho,
Que até da minha escuridão se vê."
"Correio", poema de Miguel Torga, Coimbra, 03.09.1941
"The mother", fotografia de Zinovy Bezmensky, in http://www.photoforum.ru/
A respiração das águas
O voo do flamingo
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