"A noite veio de dentro, começou a surgir do interior]
de cada um dos objectos e a envolvê-los no seu halo negro.]
Não tardou que as trevas irradiassem das nossas próprias
entranhas, quase que assobiavam ao cruzar-nos os poros.]
Seriam umas duas ou três da tarde e nós sentíamo-las]
crescendo a toda a nossa volta. Qualquer que fosse a pers-]
pectiva, as trevas bifurcavam-na: daí a sensação de que,]
apesar de a noite também se desprender das coisas, havia]
nela algo de essencialmente humano, visceral. Como ins-]
tantes exteriores que procurassem integrar-se na trama]
do tempo, sucediam-se os relâmpagos: era a luz da tarde,
num estertor, a emergir intermitentemente à superfície das]
coisas. Foi nessa altura que a visão se começou a fazer]
pelas raízes. As imagens eram sugadas a partir do que]
dentro de cada objecto ainda não se indiferenciara da luz]
e, após complicadíssimos processos, imprimiam-se nos]
olhos. Unidos aos relâmpagos, rompíamos então a custo]
a treva nasalada."
"A noite", poema de Luís Miguel Nava, in "O céu sob as entranhas" e "Poesia Completa - 1979-1994", Publicações Dom Quixote, 2002
Fotografia de Refrite, denominada "Night", in http://www.photobucket.com/
http://pt.wikipedia.org/wiki/LuÃs_miguel_nava
Fotografia de Refrite, denominada "Night", in http://www.photobucket.com/
http://pt.wikipedia.org/wiki/LuÃs_miguel_nava
2 comentários:
O farol vive da noite! porque é na noite que ilumina, os relâmpagos dão energia ao farol.
Esta sim é uma noite, é uma noite que nasce dentro, é uma noite que vive, levanta-se, abre-se, respira, e alonga-se nas veias com sangue da vida... as noites agarram corpos que se perderam, que não estão lá, que vivem na noite, noutras noites.
Dalaila,
Que o farol continue a iluminar as noites pelos tempos fora, pois a sua energia é vital!
É a reverberação da sua luz que nos dá as coordenadas do nocturno corpo...
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