"Em ti, o poema, o amplo tecido de água ou a forma]
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada]
do desejo, a sua extensão e principias a entregar]
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.]
Apagaram-se junto aos olhos as praias, as árvores]
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,]
o vestígio dos útimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.]
Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos]
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.
Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus]
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.]"
Poema de Fernando Guimarães, in «Poesias Completas, Vol. I: 1952-1988», Afrontamento, Porto, 1994
"View of the Dudhsagar Falls in East Goa, South Indi", fotografia de Hélder Filipe, in http://www.olhares.com/
8 comentários:
Belo poema.
Obrigada pela partilha.
este poema abraça-me...e não parte, nunca...
afecto,
***maat
Serenamente reli novamente estas belas palavras que me levaram à agua....
Beijo, lindo poema e não conhecia o poeta
Olhos da pura fonte ...
E como não navegar por aqui ???!!!
É só beleza... pura... limpida...
agua pura da fonte para se
voltar a bebe-la sempre e se refrescar
Beijo de água
Olá Mir!
Este poema é voluptuoso. Voa com as sombras e a luz...
Olá Maat!
Um poema que nos abraça como árvores de ramos gigantescos...
Olá Dalaila!
A água deste poema escorre pelos sulcos do corpo como seiva...
Também conheço pouco da obra de Fernando Guimarães. O que, a julgar por esta pérola, é imperdoável... :)
Olá Hanah!
Este poema bebe-se da fonte das palavras cristalinas, das palavras sem mácula...:)
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