A pele azul do céu...
"Desta vez deixai-me
ser feliz,
não aconteceu nada a ninguém,
não estou em nenhum sítio,
acontece somente
que sou feliz,
de coração pleno, quer
andando, dormindo ou escrevendo.
Que hei-de eu fazer, sou
feliz,
sou mais vasto
do que a erva
nas planícies,
sinto a pele como uma árvore rugosa,
a água em baixo,
os pássaros em cima,
o mar como um anel
à roda da minha cintura,
a terra feita de pão e de pedra
e o ar cantando como uma guitarra.
Ao meu lado na areia
tu és areia,
cantas e és canto,
o mundo
é hoje a minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje a tua boca,
deixa-me
ser feliz
na tua boca e na areia,
ser feliz porque se eu respiro
é a ti que o devo,
ser feliz porque acaricio
os teus joelhos
e é como se acariciasse
a pele azul do céu
e a sua frescura.
Hoje deixai-me
ser feliz
sozinho,
com todos e ninguém,
ser feliz
com a erva
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com a tua boca,
ser feliz."
"Ode ao dia feliz", poema de Pablo Neruda (Parral, Chile, 1904-1973), tradução de Luís Pignatelli
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2 comentários:
Fantástico, maravilhoso, único e isto me fez feliz!!!!
Ser feliz, porque se vive, se respira, se vê, se sente, se cai e se levanta, ser feliz porque tudo é nosso porque entrou pelas entranhas, ser feliz porque estamos bem conosco, ser feliz porque se sente o ar!!!
Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade (Carlos Drummond Andrade)
Ser feliz porque outro existe em nós...
Obrigada Lupussignatus.
Olá Dalaila!
Obrigado pelas tuas palavrinhas sentidas...Também eu fiquei feliz por lê-las: crepitam. São o espelho da chama que as palavras (ainda) despertam em nós...
Grato pela referência a Carlos Drummond de Andrade. Esse mestre sabe do que fala...:)
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