"A cruz dizia à terra onde assentava,
Ao vale obscuro, ao monte áspero e mudo:
- Que és tu, abismo e jaula, aonde tudo
Vive na dor, e em luta cega e brava?
Sempre em trabalho, condenada escrava,
Que fazes tu de grande e bom, contudo?
Resignada, és só lodo informe e rudo;
Revoltosa, és só fogo e hórrida lava...
Mas a mim não há alta e livre serra
Que me possa igualar!...amor, firmeza,
Sou eu só: sou a paz, tu és a guerra!
Sou o espírito, a luz!...tu és tristeza,
Ó lodo escuro e vil! - Porém a terra
Respondeu: Cruz, eu sou a natureza!"
"Diálogo", poema de Antero de Quental, Ponta Delgada, São Miguel, Açores, 1842-1891
Ao vale obscuro, ao monte áspero e mudo:
- Que és tu, abismo e jaula, aonde tudo
Vive na dor, e em luta cega e brava?
Sempre em trabalho, condenada escrava,
Que fazes tu de grande e bom, contudo?
Resignada, és só lodo informe e rudo;
Revoltosa, és só fogo e hórrida lava...
Mas a mim não há alta e livre serra
Que me possa igualar!...amor, firmeza,
Sou eu só: sou a paz, tu és a guerra!
Sou o espírito, a luz!...tu és tristeza,
Ó lodo escuro e vil! - Porém a terra
Respondeu: Cruz, eu sou a natureza!"
"Diálogo", poema de Antero de Quental, Ponta Delgada, São Miguel, Açores, 1842-1891
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