"Já lá vai Pedro Soldado
num barco da nossa armada
e leva o nome bordado
num saco cheio de nada.
Triste vai Pedro Soldado.
Branda rola não faz ninho
nas agulhas do pinheiro
nem é Pedro Marinheiro
nem no mar é seu caminho.
Nem anda a branca gaivota
pescando peixes em terra
nem é de Pedro essa rota
dos barcos que vão à guerra.
Nem anda Pedro pescando
nem ao mar deitou a rede
no mar não anda lavrando
soldado a mão se despede
do campo que se faz verde
onde não anda ceifando
Pedro no mar navegando.
Onde não anda ceifando
já o campo se faz verde
e em cada hora se perde
cada hora que demora
Pedro no mar navegando.
E já Setembro é chegado
já o verão vai passando.
Não é Pedro pescador
nem no mar vindimador
nem soldado vindimando
verde vinha vindimada.
Triste vai Pedro Soldado.
E leva o nome bordado
num ssaco cheio de nada.
Soldado número tal
só a morte é que foi dele.
Jaz morto. Ponto final.
O nome morreu com ele.
Deixou um saco bordado
e era Pedro Soldado."
"Romance de Pedro Soldado", poema de Manuel Alegre, Águeda, 1936
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