O dorso dos amantes



Agita
a felicidade
antes de a
usares
ela é fruto
maduro
pendente
na árvore
do desejo


Despe-a
aos poucos
de ocos
artifícios
e deita-a
inclinada
sobre o dorso

Bebe de
um só trago
a volúpia
do sagrado
líquido
que escorre
pelo rebordo
da sua taça
prateada

Agarra
com firmeza
os anéis de fumo
que teimam
em escapar-se
das tuas mãos
trémulas
e inquietas

Ouve
a voz dos deuses
que se liquefaz
na bruma
dos amantes

Há um eco
que se desprende
dos flancos
da madrugada

Pela luz que irradia
sobre os cumes
da montanha
dir-se-ia prenhe
de vida

V. Solteiro, 06.05.07





2 comentários:

Maria Azenha disse...

“Ouve
a voz dos deuses(...)

Há um eco
que se desprende
dos flancos
da madrugada

Pela luz que irradia
sobre os cumes
da montanha
dir-se-ia prenhe
de vida”

Gostei.
Perdoa o destaque destes versos, mas são lindos.

lupuscanissignatus disse...

Muito obrigado, Maat, pela tua gentileza.

Curiosamente, essas duas últimas estrofes foram exactamente aquelas que re-alinhavei depois de ter vertido o poema para o blog...

Boa semana para ti.