A usura dos dias



Côncava ressonância
vinda das mais
profundas
entranhas da Terra -
Assim se apresenta a poesia
ao excelentíssimo senhor
deserto

de ideias.

Umas vezes perdida;
Outras tantas achada;
Há também quem ache
(e outros ainda que procuram...)
que ela nada vale
- economicamente falando,
é claro!

(Facto que
bem vistas as coisas
também tem a sua poesia!)

À luz do meu
obscuro pensamento
ela vale o que vale
- bem mais
do que uma montanha
um planalto
ou até
- imaginem! -
uma planície de trigo.

Porque não?

Pois se ela é
além de pão
a própria boca.
A poesia é criatura
insaciável
indomável
inclassificável.

Ela é o Produto Interno Puro
em estado bruto.

Mas o que mais
me compraz
nas inauditas
faces da poesia
é o seu riso fácil
e os seus dentes
amarelecidos
pelo fumo dos cabarés
dançantes.

É verdade...

Ela não se mede
nem se enxerga!

Ela não se verga
nem se quantifica!

Ela não se fica
nem se mensura!

Ela é a própria usura
- dos dias,
bem entendido!

V. Solteiro, 16.05.07



2 comentários:

Maria Azenha disse...

este poema é tão actual...trouxe-me memórias de ALEXANDRE O'NEILL ...
e como ele escreve:"Sem objecto, o poema
é uma redacção
dos 100 Modelos
de Cartas de Amor."E dizes:"Assim se apresenta a poesia
ao excelentíssimo senhor
deserto "


***maat

lupuscanissignatus disse...

Este tem um objecto muito preciso e definido - a política...

...assim mesmo, a que se escreve com letra pequenina...