Na orla do lago
foi descoberto
o corpo
de um pássaro
ferido nas asas
pelo chumbo
da solidão
A sua densa
penugem
não revelava
vestígios
de sangue
Apenas a sua ténue voz
era indício
de que era já remoto
o sopro do coração
V. Solteiro, 04.12.07
"Bird", fotografia de Monq, in http://www.photoforum.ru/
8 comentários:
quando é a voz do coração que não canta... a ferida é longa, passeia-se por entre a neve, arrefecemos no tempo.... não vemos o corte, não vemos o sangue, mas a pele retrai... vive com a voz que tem, mas qualquer voz, acaba por gritar outra vez
"Na orla do lago
foi descoberto
o corpo
de um pássaro
ferido nas asas
pelo chumbo
da solidão
A sua densa penugem
não revelava
vestígios de sangue
(...)
Apenas a sua ténue voz
era indício
de que era já remoto
o sopro do coração"
Gosto do poema e imagem...li assim o poema...
Belo! e tocante...
lindo tudo....
Olá Dalaila!
A voz dos pássaros é uma clave de sol...
Olá Maat!
Partilho (d)a leitura que fizeste...
Obrigado.
Olá Hanah!
Ainda bem que gostaste...
Obrigado.
Que belas palavras para descrever a solidão....sim, a solidão assim descrita parece mais bela, mais chilreante do que na realidade é.
Por momentos lembrei-me de um poema de António Gedeão, que se intitula “Poema do Homem Só”
“Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém. “
Ao ler as tuas sentidas palavras nunca estou só….
Obrigada por partilhares assim a vida
És o chilerrar do meu coração nos meus momentos de solidão.
Beijocas doces
Olá Joaninha!
Esse belíssimo poema do António Gedeão é um hino á beleza e á aspereza da solidão.
Compará-lo com o que escrevinhei é colocar uma barcaça ao lado de uma nau!
Obrigado pelas tuas sonoras e doces palavras.
Soam a canto...
Límpido e luminoso...
Beijinho de estorninho.
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