"(...) Nós temos vivido sobretudo em função de uma imagem irrealista. Sempre no nosso horizonte de portugueses se perfilou como solução desesperada para obstáculos inexpugnáveis a fuga para céus mais propícios. Chegou a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá-longe a solução que como no apólogo célebre está enterrada no nosso exíguo quintal. Não estamos sós no mundo, nunca o estivemos. As nossas possibilidades económicas são modestas, como modesto é o nosso lugar no concerto dos povos. Mas ninguém pode viver por nós a dificuldade e o esforço de uma promoção colectiva do máximo daquilo que adentro dessa modéstia somos capazes. Essa promoção passa por uma conversão cultural de fundo susceptível de nos dotar de um olhar crítico sobre o que somos e fazemos, sem por isso destruir a confiança nas nossas naturais capacidades de criação autonomizada, dialogante como tem sido sempre, mas não sob a forma de uma adaptação mimética."
Eduardo Lourenço, in "O Labirinto da Saudade", Novembro de 1988, Publicações Dom Quixote
3 comentários:
na lucidez da palavra, a apreensão do mundo.
Obrigado também pelo Zeca, que tanto nos legou na sua visão maior.
maré
Sabedoria intemporal.
ler
re
ver
ser!
"venham mais cinco!"
Afecto,
mariah
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