"Feliz, quem sabe, o vento. Sem memória,
beijando-me nos lábios, ele abraça
o meu destino às cegas na paisagem.
É sempre nesse instante que regresso
à poalha do céu onde começa
talvez a maldição, talvez o encanto
de invocar-te em silêncio. Porque, eu sei,
entre palavras morre a cor dos sonhos,
o vão pressentimento de estar vivo.
Feliz talvez o vento e no entanto,
arrasta ainda areia e vagas vozes
na praia ao abandono. A luz da tarde
encobriu-se de névoa, só o mar
ficou perto de mim - agora é simples:
as ondas trazem novo o teu sorriso,
movem o seu abismo nos meus olhos,
mas lágrimas nenhumas vão salvar-me
o corpo, a alma, as cinzas, esta vida."
"Praia", poema de Fernando Pinto do Amaral
"Ghost in the beach", fotografia de Renato Cortes, in http://www.photoforum.ru/
8 comentários:
...como fico tão perto de mim!...
a poesia torna-nos mais nus, mais veradade pura, nesta vida...os pensamentos ficam quase líquidos ou aéreos...
***maat
lindo e tão a nu...
be welcome! :)
era mar era:
ave era:
fluida
branca
azul fera
~
Deixa-me reter esta frase por ser verdade e sentida.
Porque, eu sei,
entre palavras morre a cor dos sonhos...
Por isso as palavras muitas vezes atrapalham.
Um abraço
Olá Maat!
O mar e a poesia unem-se, nus, despidos de memória...
Olá Pi!
Tão belo que ia jurar que quando o li consegui ver o vento...:)
Bem vinda arquitectar!
Olá Un Dress!
Mar amigo
Voa-nos
por dentro
Olá Meg!
As vagas da memória...
Abraço.
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