
"Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar dentro de ti como num bosque.
É a hora de fazer milagres:
posso ressuscitar os mortos e trazê-los
a este quarto branco e despovoado,
onde entro sempre pela primeira vez,
para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas na luz do amanhecer.
Posso prometer uma viagem ao paraíso
a quem se estender ao pé de mim,
ou deixar uma lágrima nos meus
olhos ser toda a nostalagia das areias.
É a hora de adormecer na tua boca,
como um marinheiro num barco naufragado,
o vento na margem das espigas."
"Os olhos rasos de água", poema de Eugénio de Andrade
"Crying of nature", fotografia de Pavel Anukhin, in http://www.photoforum.ru/
6 comentários:
Tão belo que chega a doer querido.
Abracinho
"Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te."
...
Poema de Jalaluddin Rumi
belo...:)
Olá Ana!
Comove-dor...
Abração.
Olá Mir!
Alma-mater.
Obrigado.
Olá un dress!
Eugénio enternece...
(O teu blog é magnífico)
Abraço.
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