Ler o voo...



"As palavras voam, o escrito permanece"


[Verba volant, scripta manent]


Provérbio latino


"Flying emotion", fotografia de Guido Stocco, in http://www.photoforum.ru/

Ler o coração...



"Leio para aumentar o meu coração e não para ter o gosto de contemplar como as regras da gramática se cumprem uma vez mais nas páginas do livro."


Ortega Y Gasset, filósofo espanhol

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortega_y_Gasset

"Reading outdoors", fotografia de Alexey Bulgakov, in http://www.photoforum.ru/

Ler a claridade...

"Leio e estou liberto, adquiro objectividade. Deixei de ser eu e disperso. E o que leio, em vez de ser um trajo meu que mal vejo e por vezes me pesa, é a grande clareza do mundo externo."

Fernando Pessoa, poeta


"Reading in morning", fotografia de Chaoran Chang, in http://www.photoforum.ru/

Ler o sonho...


"Quantos ledores, tantas as sentenças."


Sá de Miranda, poeta
"Somebody reading, someone else...dreamming...", fotografia de Irina Savkina, in http://www.phoforum.ru/

A viagem dentro de mim...

"A minha vida é um constante salto. Um salto de afectividades para afectividades, de corpos para corpos, de sentimentos para sentimentos. É um constante viajar. Contudo, a grande viagem vai ser dentro de mim. Já tirei o passaporte para ela, mas ainda não está autorizado."

José Rodrigues, escultor


"Journey", fotografia de Geo Darjan, in http://www.photoforum.ru/

Entro no amor como em casa...



"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraidíssimo percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde no café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor
como em casa."



"Amor como em casa", poema de Manuel António Pina

"A step to freedom", fotografia de Sílvia Marmori, in http://www.photoforum.ru/

Escuridão brilhante



"A arte em geral faz lembrar uma bússola robusta e ao mesmo tempo delicada que nos vai guiando pela escuridão brilhante."


Ondjaki, escritor




"Red imagination", fotografia de Yuri B., in http://www.photoforum.ru/

A revolução dentro do coração...



"Tudo o que é do domínio da criatividade deve perturbar. A arte pode fazer a revolução dentro das pessoas, mas não pela agressão, antes pela perplexidade, que até pode resultar do divertimento. A comunicação estabelece-se a dois níveis: pelo humor ou pelo afecto. Só tenho pena de ser macambúzio..."

Fernando Dacosta, jornalista e escritor

"Heat", fotografia de Yuri B., in http://www.photoforum.ru/

O dialecto do lume



minúsculo
e irrequieto
átomo
riscando
a densa
matéria
o pirilampo
flamejante
vogal
carregada
com o til
do futuro
traçou
no ar
a espiral
de um novo
dialecto


ponto
por
ponto


vírgula
a
vírgula


o insectívoro
farol
semeou
o espaço
de hábeis
acentos
de lume
incendiando
o pomar
dos vocábulos
com o seu
fosforecente
pólen


botão
flor
fruto
árvore


todos eles
crescem hoje
grávidos
de seus cristais



V. Solteiro, 20.05.08


Imagem retirada daqui:


Além...



"Eu vou por este sol além
e ele é quotidiano até ao fim
como se até hoje ninguém
tivesse no sol e fora do sol também
morrido a morte por mim"



"O Percurso Diário", poema de Ruy Belo

Fotografia sem título de Alexander Dugaev, in http://www.photoforum.ru/

Raros os que se salvam...



"Raros os que se salvam na voragem profunda."


Virgílio, in "Eneida"


"Salvation", fotografia de Check, in http://www.photoforum.ru/

Nota: inscrição existente na estátua do general Humberto Delgado, situada na Praça Carlos Alberto, na cidade do Porto, da autoria do escultor José Rodrigues.

O chão que pisamos...



"A corrupção dos vivos é ainda mais trágica do que o rosto mutilado dos mortos."




Eugénio de Andrade, poeta
"The Ground Zero today", fotografia de A Girao, in http://www.phoforum.ru/




A amizade é um pássaro...



"A ave constrói o ninho; a aranha, a teia; o homem, a amizade."

William Blake, poeta e pintor inglês
"About Birds Love", fotografia de Vadim Onishchenko, in http://www.photoforum.ru/


O homem pertence à terra...


"Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra; tudo está ligado, como o sangue que une uma família. Tudo o que acontece à terra, acontecerá aos filhos da terra. O homem não tece a teia da vida, ele é um dos seus fios. Aquilo que ele fizer á rede da vida, ele o faz a si próprio."

Mensagem do Chefe Seatle ao presidente dos E.U.A. em 1854


"The wanderer", fotografia de Kristina Asina, in http://www.photoforum.ru/

Mundo novo






"Só um mundo nós queremos: o que tenha tudo de novo e nada de mundo."

Mia Couto, escritor e poeta moçambicano




"Underwater world", fotografia de Alexander Sanin, in http://www.photoforum.ru/


Os frutos do fogo...



"Gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol."

Eugénio de Andrade, poeta, in "Rosto Precário", Editora Limiar, 1ª edição, Setembro, 1979 

"Still Life", fotografia de Dan Swanzen, in http://www.photoforum.ru/

Rosa da integridade



"A principal finalidade do homem e o seu dever permanente é a manutenção e o desenvolvimento da sua integridade."

António Ramos Rosa, poeta
"Raindrops on roses", fotografia de Mavis, in http://www.photoforum.ru/

Sílabas de argila



órfãos
do rumor
das águas
soletramos
a argila
das sílabas
no leito
rugoso
da solidão


náufragos
de salinas
avenidas
ínfimo tronco
entre destroços
submergimos
na corrente
dedilhando
desérticos
violoncelos


adágio
andante
cantabile


o céu
ir
rompe
na cadência
da monção



Poema e fotografia
V. Solteiro, 09.05.08

Esta gente...



"Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre


Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome


E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada


Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo"



"Esta Gente", poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"
"Smiling to a stony sea", fotografia de Silvia Marmori, in http://www.photoforum.ru/

Os (in)conformados



"Sempre houve um ambiente de corte para os conformados e de corte para os inconformados."

Baptista Bastos, escritor e jornalista


"The Chain of Treasure", fotografia de Alejandro Millan, in http://www.photoforum.ru/

Eis-nos como ilhas...



"Eis-nos como ilhas submersas:
À tona bóiam os restos que nos consentem,
Iluminados por um luar que a poesia recusa.


Do dilúvio - se afinal o foi -
Tudo foi inútil,
Como há muito o éramos,
Ilhas que fôramos.


Como ilhas de ódio cercadas,
Estagnando o sangue e o sonho,
Como ilhas vivíamos...
Se a vida era o olhar indiferente
E o gesto petrificado.


Como ilhas éramos todos,
Ilhas agora submersas:
À tona, bóiam
Os restos que nos consentem."



"Arquipélago", poema de Tomaz Kim, in "Flora & Fauna"


"Islands float past", fotografia de Valeria Strunnikova, in http://www.photoforum.ru/


São raras as palavras criadoras...



"São raras as palavras criadoras que dizemos. Palavras que signifiquem a tal experiência vivida dentro de cada um de nós. Poucas vezes na vida as palavras humanas traduzem a criação interior..."


António Alçada Baptista, ensaísta
"Remembering the past", fotografia de Silvia Marmori, in http://www.photoforum.ru/

O luminoso olhar do mar...



"Frente ao mar
meu corpo ardente e nu de marinheiro pelo sangue.
Fervem-me nas veias
um milhão de ondas em repouso
Em meus olhos cativos e saudosos
- imagem da minha solidão imensa -
o abraço que me une a ti
ó mar
deus pagão de olhar luminoso e belo!


Recebe ó mar este afluente silencioso
que para ti corre
e contigo se confunde:
o líquido canto a quem me ligo
pelo drama de não ser só teu."




"Um Corpo Um País", poema de Casimiro de Brito

Existir...



"Todos existimos na sequência de uma fila interminável de seres e somos um conjunto de tudo isso, que se reuniu em nós com diferentes pormenores. Tal como átomos iguais se juntam e dão moléculas com qualidades diferentes."

António Gedeão, professor e poeta

Fotografia sem título de Vasia Kurolesoff, in http://www.photoforum.ru/

Cântico de Maio



Tisnado
de sol
humedecido
pelo orvalho
Maio nasceu
hera flutuante
com olhos
de borboleta
e pés de
álamo


Tenro menino
entrelaçava luas
e malmequeres
que envergava
no peito
como oferenda
dos deuses


Brincar ás
escondidas
com as sombras
ou á cabra-cega
com as nuvens
eram outros
dos seus passa
ventos dilectos


Em cada ramo
Em cada tramo
Em cada dialecto
Maio crescia


As joviais frutas
ruborizadas
com sua presença
suspiravam:

'Ó Maio
canta
dor
Ó Maio
conta
dor
quanto
do teu
pólen
não é
mel
do
amor'


Maio não se
descaía


Melro esquivo
cantarolava
fingia que
não ouvia
fugia
para longe
caminhando
pelo trigal
ou pela caruma
dos bosques


A ninguém ele
contava
o maduro
sangue
que jorrava
pelo trinado
das andorinhas



Poema e fotografia
V. Solteiro, 03.05.08



O trono da candura


sagrado
é o lume
da primavera



dele recolho
o fruto
que maio
coroou
na fronte
da cerejeira


rubi
redondo
puro


da boca
ergo
um rosáceo
trono
de candura



V. Solteiro, 02.05.08

"Lead me to the red", fotografia de Wayne Chiu, in http://www.photoforum.ru/

T(r)emor


afoga
o temor
no colo
da noite


deixa
que o choro
das vítreas
horas
afunde
a insónia
no reflexo
da ausência


afaga
o tremor
no regaço
da aurora


deixa
que o en
laço
dos raios
sulquem
as tuas
asas
sono
lentas



Poema e fotografia
de V. Solteiro, 30.04.08