Escuro


Abre os olhos, escuro!


Vê quanta claridade se esconde no maduro

núcleo da onda. Íntegro, queimas o sal em cada

inalação da matéria.


Sabes, o crânio é um frágil vaso de madrugada

que se sustém no parapeito das intempéries.

Inclina-o e mergulha-o no coral do recomeço. 


A sede pelo fruto ganhará assim um outro apreço.


V. Solteiro

Vago

Oleg Belikov

 

desenho na veia a vaga
para que me tragas 
para que me tragues
de volta por inteiro
ao ponto de partida

V. Solteiro


                                                                                          

Colher o recolhimento

Formigas afadigadas 
na recolecção do inútil
assim vamos andando 
desandando do centro
do lugar da liberdade

Carregamos nas costas 
o peso do supérfluo
e a medida da necessidade
desmedida

No fim quem nos acolhe 
é a mesma amiga
que nos colhe

V. Solteiro