Pela berma da tarde...


Um homem quebra o espelho do medo.
Com a determinação do quartzo, ele move
uma cadeira de rodas pelo pulso do futuro.
Quebrado, mas não rendido, o seu corpo
é um turbilhão sem centro nem periferia.
Surdo à lava do ruído, cego ao mármore do olhar,
o homem é um géiser imparável.
Dentro de si vagas explodem contra o paredão do desamparo. 
Prende-o o cinto do pensamento, o movimento erecto e centrípeto da combustão. 
Plena. Pura. 
Terra, vísceras e fogo, tudo se interpenetra com
o gélido sangue da realidade.
Alheia aos estilhaços, uma mulher, mãos enlaçadas
com a tristeza do asfalto.
Pela berma da tarde, os dois, rostos fechados, 
são uma máquina ofegante devorando o declive do infortúnio.

V.Solteiro

4 comentários:

Graça Pires disse...

Um poema muito forte. Que me deixou a pensar.
A vida feita de pedaços que exigem determinação e esperança...Há um homem a quebrar os espelhos do medo e uma mulher alheia aos estilhaços... Muito belo, apesar de tanta, tanta melancolia.
Um beijo.

Jefferson Bessa disse...

existência e resistência na dureza do que se quebra e se firma...
Poema forte, Vítor!
Um abraço,
Jefferson

Lídia Borges disse...


Por vezes, o pulsar do sangue não é contido pelas veias e, transbordante, faz-se Poema.

Um beijo

Às margens de mim. disse...

Feliz Ano Novo!
O nosso caminho é feito pelos nossos próprios passos… Mas a beleza da caminhada depende dos que vão conosco!
Assim, neste novo ano que se inicia possamos caminhar mais e mais juntos… Em busca de um mundo melhor, cheio de paz, saúde, compreensão e muito amor...
Beijos