Labaredas
Avalanche em pleno estio, Celeste absorvia com sofreguidão as nuvens que vogavam céleres nas fundas correntes dos seus pensamentos.
Absorta pelo seu precário e mutável destino, do intrincado novelo que toldava o movimento das mãos, tudo o que retinha eram águas que, supunha, já não moviam moinhos - atalhos de terra batida, veredas de branquíssimos amieiros, lareiras aquecidas pela ternura e pedras sagradas, brilhantes como diamantes.
Dir-se-ia que tudo se esfumara na poalha dos caminhos e que a encruzilhada com que agora se defrontava esmorecera o fogo da procura [a sua demanda]. Nada mais errado...
Lembrava-se, com gozo pueril, do perfume da flor da laranjeira que seu avô plantara no pequeno quintal de casa, do gigantesco tamanho dos cardos que se abeiravam da janela do comboio [e que ela fazia questão de tocar], do sabor adocicado dos grãos da romã a desfazerem-se no céu da boca.
Celeste riu-se dela própria e do tumultuoso rio de dúvidas que a submergira. Agora percebia o valor dos símbolos e a sua intrínseca perenidade. Mós que alavancam o Ser a uma dimensão que estilhaça todas as correias e ampulhetas. Sim, eram esses os frutos que nutriam o sangue com as células da perseverança e da resistência.
De uma golfada, encheu de ar frio os pulmões, susteve a respiração por segundos, e, fitando o trilho por onde subira, fincou os pés na cristalizada rocha do futuro...
Texto e fotografia
de V. Solteiro
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13 comentários:
Simplesmente... adorei! Queria mais...
Um beijo meu.
Que lindo!
Linda poema e linda imagem...
XD
Fascina-me o fogo!
Gosto de me sentar no tapete e perder-me em pensamentos e sonhos no cenário das chamas das achas da lareira.
E na vida, tal como dizes e muito bem,
"........ tudo o que retinha eram águas que, supunha, já não moviam moinhos - atalhos de terra batida, veredas de branquíssimos amieiros, lareiras aquecidas pela ternura e pedras sagradas, brilhantes como diamantes.
Dir-se-ia que tudo se esfumara na poalha dos caminhos e que a encruzilhada com que agora se defrontava esmorecera o fogo da procura [a sua demanda]. Nada mais errado..."......
...e a vida, sim só vale a pena quando se vive sentida, à "prova de fogo"...
... "Sim, eram esses os frutos que nutriam o sangue com as células da perseverança e da resistência. "....
Lindissimo texto!
Lindissima imagem!
Beijo, Feliz Ano Novo!
Lindo texto! Quanto lirismo! As palavras tão bem arquitetadas! Adorei! Venha conhecer o Poética, será um prazer a tua companhia. Já estou te seguindo, voltei sempre!
Abraço
Uma viagem maravilhosa pelos caminhos da poesia, com tons sons e cheiros em declive no seio da palavras.
L.B.
entre as experiências do tempo. não deixar apagar o fogo da procura.
Abraços.
Jefferson,
os eternos retornos à flor mais acesa do sangue...
assim se vive em ciclos e dos ciclos, em círculos. emergindo do pó, de cinzas que guardam um último alento de calor. e de novo uma passada generosa, uma pegada de loba...
____
um beijo, generoso.
olhando o olhar
parando o parar
[ ardendo-viva,
~
Que bonito! *
.
. genial .
. na genialidade de um léxico que se re.inscreve no tempo .
. parabéns .
. abraço.TE Vitor .
. sempre,,, .
. paulo .
.
em demanda do devir com os pés bem assentes no presente
.
um beijo ,em princípio de semana
Tal como as labaredas, texto intenso e devorador!
Um abraço.
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