Uma ideia [fixa]


























Luzia tinha uma ideia fixa.
Mobilizava-a a possibilidade de articulação
de um dialecto de afectos:
instilar na boca dos homens
o perfume das magnólias.
Esse era o botão que a impelia a desabrochar
do chão estéril de pétalas em que se movia.
Pouco a importunava que na rua ou nos
estabelecimentos a apontassem a dedo
e a apodassem de lunática.
Todo o seu labor era devotado ao gérmen da língua
a lançar na terra as sementes dos astros
e com a sua floração despoletar
a revolução dos sentidos.


Texto e fotografia
de V. Solteiro

Um acento do eterno...

"(...) Tudo no mundo era episódico, posto revestisse um acento de eterno dentro da ciclicidade. Muitas gerações andadas, ver-se-iam agros, gente, coisas, o mais iguais àquelas que se pode imaginar. A forma é que as prendia à existência. O mais, desejos, ilusões, vontade ou resignação da vontade perante o absoluto, que era isso?
O homem, qualquer homem era uma peça, por sinal má peça, na relojoaria universal (...)."


Aquilino Ribeiro, in "Terras do Demo"

Fotografia de Viaceslav

Gelometria


A terra vive numa tela
de gigantescas proporções
Amiga das artes e da vulcanologia
ela gira num mar de
geométricas redes

No imorredouro vértice
do subsolo
ela tece um traje de gala

Na semântica aproximação com o gelo
ela despe o corpo de fogo


Texto e fotografia
de V. Solteiro