Uma biblioteca com 4.800 livros e dez pernas...*


Fotografia The New York Times


"(...) Na vila de El Brasil, [na Colômbia profunda], Ingrid Ospina, 18 anos, folheava uma cópia de “Margarita”, o clássico livro de poesia de Rubén Darío, da Nicarágua, quando começou a ler em voz alta.

'Ela foi além de onde estão os céus
e disse à lua, au revoir.
Que travessa ter voado tão longe
sem a permissão de Papai.'


'Isso é tão lindo, professor', disse Ospina. 'Quando você volta?'"


Este é um pequeno excerto da deliciosa e comovente reportagem escrita por Simón Romero* para o The New York Times, intitulada "Uma bibilioteca com 4.800 livros e dez pernas".
O artigo conta a História e as histórias de Luís Soriano, um professor numa remota e pobre localidade da Colômbia que decidiu, contra ventos e montanhas, criar uma biblioteca itinerante em cima de dois burros (Alfa e Beta de seu nome) e levar cultura e educação aos mais desfavorecidos. Resultado:a "Biblioburro" é hoje um projecto com raízes fundas, mobilizador de pequenas-grandes transformações.

Notícia originalmente postada aqui: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL834248-5602,00.html

Bio.divers.idade

Fotografia de V. Solteiro
Parque Natural do Alvão

Amo as árvores que dão pássaros...



"Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros]
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se]
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal]
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos]
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores]
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros]
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração"



"Os pássaros nascem na ponta das árvores", poema de Ruy Belo

"About Birds Love", fotografia de Vadim Onishchenko, in www.photoforum.ru/

Os despojos dos dias...


"Este é o tempo em que a confiança dos homens foi reduzida a lixo."

Amos Oz, escritor

"Doll", fotografia de Alex Gontar, in www.photoforum.ru/

Deixar de Ser...

"As águias de hoje na guerra,
Com os seus golpes traiçoeiros,
Queimam os pastos da terra...
Morrem de fome os cordeiros.


Da guerra os grandes culpados,
Que espalham a dor na terra,
São os menos acusados
Como culpados da guerra.


O oiro, o cobre e a prata,
Que correm p' lo mundo fora,
Servem sempre de arreata
P' ra levar burros à nora.


Que o mundo está mal, dizemos,
E vai de mal a pior;
E, afinal, nada fazemos
P ' ra que ele seja melhor.


Se os homens chegam a ver
Por que razão se consomem,
O homem deixa de ser
O lobo do outro homem."



["As Águias de Hoje na Guerra"], poema de António Aleixo


Promessa traída...


"(...) A 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os Estados comprometeram-se a 'promover o progresso social e elevar o nível de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade' e reconheceram que 'os seres humanos só podem libertar-se do medo e da miséria se se criarem condições em que todas as pessoas podem desfrutar dos direitos humanos.'

Sessenta anos depois da adopção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, está por cumprir o respeito pelos direitos humanos universais e indivisíveis, que permitam efectivar o direito a um nível de vida digno e o ideal do ser humano livre.


Só em 2007, 1252 pessoas foram executadas em 24 países, documentou-se a prática da tortura e maus tratos em 81 países, em 45 países existem presos e presas de consciência, 854 milhões de pessoas sofrem a tortura da fome em todo o mundo e 1100 milhões não têm acesso a uma habitação digna (...)."


http://www.es.amnesty.org/60-aniversario-de-la-declaracion-universal-de-ddhh/actua-aung-san-suu-kyi/


Tradução livre de parte do Manifesto da Amnistia Internacional que visa assinalar seis décadas sobre a proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Fotografia da Associated Press de Aung San Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz, a mais conhecida dos cerca de 2100 presos políticos de Myanmar, co-fundadora do principal partido da oposição, a Liga Nacional para a Democracia.



África en-clausura-da...


"(...) No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo (...)."

Mia Couto, in "Jornal Savana", 14.11.08, numa crónica intitulada "E se Obama fosse africano?"


"Liberty", fotografia de Ernest Hermann, in www.photoforum.ru/

Neo-esclavagismo



"As pessoas costumam criticar a época do esclavagismo, mas hoje vivemos num mundo de escravatura sofisticada. A escravatura realmente não terminou. Há processos de opressão permanente do ser humano."

José de Guimarães, artista plástico

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_guimar%C3%A3es

"Leaving the zone", fotografia de Samuel Sevada in www.photoforum.ru


Esta gente...


"O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente"



"Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly

"Origenes", fotografia de Olay Murillo, in www.photoforum.ru/

Vogais de água



"há lugares onde chegam vogais de água
lugares novos espantados que assomam à memória
por redes vertiginosas

as suas entoações concentram-se em palavras fabulosas]
palavras luminosas sur-
preendidas pelos castiçais dos ii

um projecto de água

digo:

transportar o sonho de um lado para outro
abrir com toda a força um buraco nos espelhos"



"Vogais de água", poema de Maria Azenha, in "A Chuva nos Espelhos, Editora Alma Azul, Fevereiro de 2008


"The Webs We Weave", fotografia de Michael McCann, in www.photoforum.ru/

Rugas...


Com gestos
de paz
derrubas

as barragens
que o pensamento
meticulosamente
urdiu
***
Com palavras
de ternura
derramas
a madrugada
sobre o peito
das andorinhas
***
(e reconstróis
a pele do mundo)
***
Poema e fotografia
de V. Solteiro

A.corda

acorda
***
rompe
a corda
que te prende
aos nós
da letargia
***
acorda
***
esgana
a indiferença
na prensa
do quotidiano
***
(e pendura-a
no frondoso
pescoço da lua)
***
Poema e fotografia
de V. Solteiro
***
Museu Marítimo de Ílhavo

Acaso o ocaso...

não façam caso
dos que crêem
na magia
do ocaso
***
não façam caso
***
não façam caso
dos que
casualmente
nele vislumbram
algo mais que
ocasional
***
acaso
a casa
mãe
protege-nos
da luminosidade
dos sonhos?
***
Poema e fotografia
de V. Solteiro
Parque Natural do Alvão

Os braços do rio...

ávido
de outro leito
os braços do rio
prescutam na rocha
a foz
do regaço
Foto e poema
de V. Solteiro
Parque Nacional da Peneda-Gerês

Permane-Ser...


"É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer."


"É Urgente o Amor", poema de Eugénio de Andrade

"Tenderness", fotografia de Asya Karo, in http://www.photoforum.ru/