Onde era apenas Eu...



"No firme azul do desdobrado céu
Decantarei a mínima magia
Das sensações mais puras, melodia
Da minha infância, onde era apenas Eu.


Da realidade nua desce um véu
Que, já sem mar, apenas maresia,
me vem tecer aquela chuva fria,
Que prende esta janela ao claro céu.


Despido o ouropel desvalioso,
Já não apenas servo, mas o Rei
Da luz da minha lâmpada nomeia.


Assim procuro o centro misterioso
Do mundo que hoje habito, onde serei
Concêntrica expressão da vida inteira."



"Imagem", poema de Alberto de Lacerda
"The Happy Childhood", de Julia Leonova: http://www.photoforum.ru/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_de_Lacerda

6 comentários:

ॐ Hanah ॐ disse...

"Assim procuro o centro misterioso
Do mundo que hoje habito, onde serei
Concêntrica expressão da vida inteira."


beijin

Maria Azenha disse...

para este poema,tocante ao extremo, deixo-te esta minha fala:


doí-me a ilusão de ser eu.
procuro sentir,
nada mais.

as altas horas louras do céu
vão para outro cais.
de resto,
mudamente choro o que
nunca saberei,

nem porque ignoro
o que a sonhar cantei.

***maat

Dalaila disse...

Encontrar, o apenas Eu, despirmo-nos, à mais puro do que fomos, encontrar o realmente importante, o verdadeiro, é encontrar o centro misterioso, que não é mais que cada um na sua essância.

lupuscanissignatus disse...

Olá Hanah!

Vale a pena descobrir a poesia de Alberto de Lacerda. Não porque ele tenha morrido recentemente sem ter o devido reconhecimento. Mas porque a sua poesia é delicada como a natureza...

Beijo. Bom fim de semana.

lupuscanissignatus disse...

Olá Maat!

Obrigado pelas tuas palavras e pelo poema repleto de seiva. Está magnífico. Alto e grandioso. Como uma sequóia...

Bom fim de semana.

lupuscanissignatus disse...

Olá Dalaila!

Descobrir esse centro, essa essência, essa fonte de água fresca e imorredoura, é o nosso desígnio...

Obrigado. Bom fim de semana.