Floração matinal de lábios...

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"Ouço-as por dentro de mim, metidas nos cantos da memória, comendo as madeixas do verso em silêncio; e amo-as, num sussurro fresco de ser, deixando-as alimentarem-se dos meus próprios restos - ó respirações hesitantes do sonho, prometidas ao destino de uma palidez absurda, nuas no dorso das dunas!...Mas afasto-as da minha vida, no quarto fechado das margens nocturnas. Os meus dedos tocam-nas na instrumentação dos sons; sei que as cuspo com o luminoso rasto de uma queda de estrelas - e, no entanto, não cessa o desejo de uma floração matinal de lábios!, nem os outonos, presos numa concha de amêndoa, me recusam o estímulo de mares navegáveis! (Traçai, então, o contorno preciso das ruínas solares da página)."


"Mapa", poema de Nuno Júdice

6 comentários:

Maria Azenha disse...

um belíssimo texto,onde o previs
ivel se transcende a ele próprio e eis-nos em pleno Universo- a Terra eos céus cobertos de estrelas.

Quem saiba algo de Anatomia oculta do Homem compreende a profundidade deste trecho de música das esferas.
É o meu olhar para além do pó da Terra.


Belo!




***maat

Dalaila disse...

Que lindo texto, não conhecia e faz-me caminhar no mapa.

Nem os outonos, nem os nevoeiros, tiram o desejo e a vontade da floração matinal, os lábios contornam o corpo, rendem-se, dão-se, tornam-se vermelhos de desejo, latejam a respiração, de marés navegaveis.

... e passo a ouvir, o canto do verso de silêncio que o teu transpirar deixou no meu... e mesmo ter sido apenas uam manhã de sonho, vive-a porque a tinha dentro de mim para viver.

Bom dia!

ॐ Hanah ॐ disse...

Obrigado por suas partilhas
beijo de luz para ti...

lupuscanissignatus disse...

Olá Maat!

Confesso que a obra de Nuno Júdice não é das que mais aprecio entre os poetas portugueses.

Contudo, tenho que admitir que este trecho é de uma beleza infinda...

lupuscanissignatus disse...

Olá Dalaila!

E assim, com palavras de vento e flores, percorreste toda a geografia do corpo...

Muito bonito.

Obrigado.

lupuscanissignatus disse...

Olá Hanah!

A partilha implica dois sentidos e um movimento perpétuo...

Não importa de onde ela parte. O que interessa é que ela resista a todas as tempestades...

Beijo de coral.