A vida em sala de espera



"Hoje a vida tem o sorriso
dentífrico dos candidatos
e pelas ruas nos aponta
o céu em múltiplos retratos

céu não póstumo ou merecido
em cruel sala de espera
mas entre parêntesis de fogo
festiva véspera de guerra

Teor de montras a vida
com democrático humor
a todos deixa viver
a sua dose de flor

Publicitária a vida faz
sua campanha eleitoral
prato de vida apetitosa
temperada com humano sal

Televisor férias de verão
tira a vida do seu discurso
e um amor provençal
que nos domestica o uros

Popular a vida é toda
pétalas de apertos de mão
Que meus versos me vinguem
de cair nesse alçapão!"


"A Política do Dia", poema de Natália Correia, Fajã de Baixo, São Miguel, Açores, 1923-1993

2 comentários:

Dalaila disse...

Que não se passa pela vida à margem, pela rama, com egoísmos, com humor democrático, mas que se rasgue, não sejamos povos brandos, do mais ou menos, ou de está-se bem, sejamos pessoas críticas...

Viver é isso mesmo, é tentar tirar tudo de tudo e dar tudo a todas as causas que valham a pena e se acredite, é trocar um sorriso verdadeiro, um aperto de mão franco, uma palavra cumplice... é não estar na sala de espera a ver a vida a passar lá fora, e nem a sentir dentro de nós.

:)

lupuscanissignatus disse...

Olá Dalaila!

Cento e um por cento de acordo :)

A vida é um bem demasiado precioso e escasso para passarmos por ela incólumes, sem deixar rasto nem rosto, sem deixar lastro nem lustro...

Essa da rama está bem vista. Eu cá por mim prefiro ser raiz...que não enraízado :)