Entre as altas espigas de oiro ardente...



"Deu agora meio-dia; o sol é quente

Beijando a urze triste dos outeiros.

Nas ravinas do monte andam ceifeiros

Na faina, alegres, desde o sol nascente.


Cantam as raparigas, brandamente,

Brilham os olhos negros, feiticeiros;

E há perfis delicados e trigueiros

Entre as altas espigas de oiro ardente.


A terra prende aos dedos sensuais

A cabeleira loira dos trigais

Sob a bênção dulcíssima dos Céus.


Há gritos arrastados de cantifas...

E eu sou uma daquelas raparigas...

E tu passas e dizes: 'Salve-os Deus!'"

"Alentejano", poema de Florbela Espanca, Vila Viçosa, 1894-1930
Imagem: óleo de Silva Porto

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