Transforma-acção


"(...) Só o surgimento de sociedades do conhecimento reais oferece perspectiva de lidarmos com o aumento da população e o envelhecimento. Não temos escolha senão trabalhar por crescimento e desenvolvimento equitativos, fundamentados em inteligência, ciência, tecnologia e transformação dos modos de vida, produção e consumo (...)."

Koïchiro Matsuura, economista e diplomata japonês, é o Diretor-Geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

Artigo publicado na “Folha de São Paulo” e "Jornal da Ciência", 30.07.07

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=49106

Rimarei contigo...



"Moço aventureiro
Que os primeiros passos
Desprendes, ligeiro,
Com mira aos Espaços,
Velho pouco posso, tudo mal consigo,
Mas irei contigo.

Moço trovador
Que inda pelos dedos
Medes a rigor
Teus subtis segredos
Nem que nenhum Verso já persiga, - sigo:
Rimarei contigo.

Moço apaixonado
Que do amor nem sonhas
Que o menino alado
Tem manhas medonhas,
Do amor já sei tudo! Mesmo assim te digo
Que amarei contigo.

Moço ilusionista
Que a vida resumes
A acender na pista
Teus fingidos lumes,
Nem que nem no Engano possa achar abrigo,
Fingirei contigo.

Velho grande atleta
Gasto já nas lutas
Por não sei que Meta
Que até fim disputas,
Mesmo se encolhido ao mais pueril perigo,
Lutarei contigo.

Nunca nada tive,
Menos tenho ao fim.
Nunca de si vive
Quem vem ao que vim.
Parto, mas cantando. Meu mundo inimigo,
Mesmo que me expulses, ficarei contigo."


"Canção do Velho Poeta", poema de José Régio, Vila do Conde, 1901-1969

Sentir é o passaporte para a realidade...

"Sentir é, portanto, 'a senha' que transforma a esperança que nos adormece...na nossa vez."

Eduardo Sá, Psicólogo, in revista "Notícias Magazine", 01.08.04

Semear esperança



No âmago da infância
mora um limoeiro
que dá sumo e cor
à orla da memória

É nessa raiz
matricial
nessa linha
indelével
traçada entre o sol e o sal
que se colhem os frutos
mais ternos e doces

É nesse chão
fértil e litorâneo
que as mãos
se comprazem
em gestos
de deleite
e em afagos
murmurantes

É nessa costa
íntima e transparente
banhada pelo perfume
dos maracujás e da cidreira
que rodopiam os laços
de um pião que nunca
deixou de dançar


V. Solteiro, 30.07.07

Os comerciantes do horror


"Num mundo onde o horror se vende como arte, onde a arte nasce já com a pretensão de ser fotografada, onde conviver com as imagens do sofrimento não tem relação com a consciência nem com a compaixão, as fotografias de guerra não servem para nada. O mundo faz o resto: apropria-se delas assim que se ouve o obturador da máquina fotográfica. Ao menos, a fotografia é mais eficaz que a imagem passageira da televisão. Não flui indiscriminadamente."

in "O Pintor de Batalhas", de Arturo Pérez-Reverte, Edições ASA

Os (com)passos da injustiça...


"A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas
o meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.

Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje."


"Elogio da Dialética", poema de Bertold Brecht (Ausgsburg, Baviera, Alemanha, 1898-1956)", tradução de Arnaldo Saraiva

Madredeus: a voz e o verbo...

Temos ainda uma arma de luz...


"Há quem julgue que nos venceu
só porque estamos para aqui, famintos e nus,
de novo sem terra nem céu,
a apanhar do chão
às escondidas do luar
os frutos podres caídos dos ramos.

Mas não.

Temos ainda uma arma de luz
para lutar:
SONHAMOS.

...enquanto os outros, os traidores,
sem lutas nem cicatrizes
entregam a terra ao rasto dos gamos
e douram os olhos dos velhos senhores
com voos de perdizes...

Sim, sonhamos.
E o sonho quem o derrota?
- mesmo quando vamos
perdidos na rota
de um barco sem remos
na tempestade de um vulcão.

Sim, camaradas, sonhamos.

SONHEMOS!

O sonho é também acção."


"Termidor Errado (25 de Novembro de 1975/XVIII [O Sonho é a nossa arma]", poema de José Gomes Ferreira, Porto, 1900-1985

O mundo é um lugar injusto e terrível...


"(...) O mundo perdeu orientação e tornou-se num lugar obscuro e perigoso. Digo isto sem dramatismo, não tenho problemas existenciais. O mundo é injusto e é um lugar terrível. Podemos é assumir o horror de forma realista e adaptarmo-nos com lucidez para sobreviver. Só os lúcidos sobrevivem. (...)."

Arturo Pérez-Reverte, em entrevista ao Diário de Notícias, 13.04.07

http://dn.sapo.pt/2007/04/13/artes/cultura_e_saber_o_aviao_e_gritar_qua.html

Via http://vivaaosol.blogspot.com/

Júlio Pereira: as cores da música

As coisas sangram como as pessoas...

"A verdade está nas coisas e não em nós, dizia. Mas precisa de nós para se manifestar. (...) As coisas, ouviu-lhe Faulques murmurar uma vez, sangram como as pessoas. Uma das suas obsessões eram as fotografias encontradas em casas devastadas. Fotografava-as tal como estavam, sem tocar nelas ou arranjar composições: pisadas, chamuscadas pelos incêndios, penduradas e torcidas na parede com vidros ou molduras partidas, álbuns familiares abertos e desfeitos. As fotografias abandonadas, afirmava, são como as manchas claras num quadro tenebrista: não iluminam, antes escurecem as sombras (...)."


in "O Pintor de Batalhas, de Arturo Pérez-Reverte, Edições ASA

Volúpia



A seiva
da volúpia
cobre a noite
de sussurros

Gota a gota
pele a pele
desenham-se
diagonais
geografias


A ternura
que escorre
do tronco
confere
um inusitado
brilho
aos olhos
da madrugada

Lânguido
como o suor
que brota
das mãos
da clarinetista
assim a música
da alvorada
jorra
vibrante
por todas as
fontes

(Torrentes de lava
descem os ombros
como frutos incandescentes)

Do corpo
hirto
e esangue
da terra
despertam
madressilvas
que pintam
o coração
dos lábios
de multicolores
aromas

V. Solteiro, 27.07.07

O que seria do mar se os rios se recusassem?


"Estamos todos presos nos nossos oceanos individuais, olhando para os pequenos riachos que encantam nossos narcisismos. (...) Nenhum poder, nenhum ser humano tem o direito de me forçar ao ponto de secar em mim o desejo de viver. O que seria do mar se os rios se recusassem? (...) Todos estamos em busca de um sentido, um sentido para a vida, um sentido para a morte."


Jorge Márcio Pereira de Andrade, Psicanalista e presidente da organização não-governamental brasileira DEFNET

O real é o humano


"De dia para dia acredito menos na questão social, na questão política, na questão moral, e em todas as questões que as pessoas inventaram para não terem de enfrentar resolutamente a única questão real: a questão humana. Se a não enfrentarmos, tudo o que nos limitamos a fazer é produzir um tal ruído que simplesmente não a podemos ouvir."


Miguel de Unamuno, filósofo e escritor espanhol

E que tal, hoje, fazer um(a) amigo(a)?


Diferentes em tudo da esperança...

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"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houver), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía."


"Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades", poema de Luís de Camões, ? , 1524?-1580

Amar as paisagens que não existem...

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"Há tão pouca gente que ama as paisagens que não existem."

Rui d' Espiney, in ICEinfor, nº 20

Pelos direitos dos povos indígenas...


Pese embora a oposição de países como a Austrália, a Nova Zelândia, os Estados Unidos ou o Canadá, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU aprovou, no dia 29 de Junho de 2006, o texto da Declaração dos Povos Indígenas. Porém, o processo que teve o seu início há cerca de vinte anos (!) atrás, ainda não está concluído.
Na próxima sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, aprazada para Setembro, está prevista a votação final deste documento que visa reconhecer os direitos, liberdades e garantias de cerca de 370 milhões de pessoas espalhadas pelo mundo.
É no sentido de garantir que esses direitos sejam efectivamente aprovados que um conjunto de organizações elaboraram um manifesto para expressar o seu apoio aos representantes dos povos indígenas nas Nações Unidas.

http://declaraciodretsindigenes.alternativa-ong.org/

http://www.un.org/spanish/Depts/dpi/boletin/indigenas/index.html

Gentes e paisagens com rosto...


Organizado pela Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) "L Burro I L Gueiteiro" é uma iniciativa que já vai na 5ª edição e que consta, entre muitas outras actividades culturais (ver programa) de um passeio de burro pelas Terras de Miranda ao som da gaita-de-foles, de 29 de Julho a 1 de Agosto.
Oportunidade ímpar para descobrir as várias faces da cultura tradicional e do património histórico-cultural de uma região de gentes e paisagens com rosto...e coração.

http://www.aepga.pt/portal/PT/111/EID/49/DETID/9/default.aspx

Raiz humana

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A esperança

é uma raiz

humana

que se agarra


ao ventre da terra

como árvore ferida

pelo estertor


do machado



Que seria dos pássaros

se tivessem medo


de construir

o seu ninho?



Seriam eles aves

arquitectas de futuro

ou ornitológicas


espécies rastejantes?



Não alimentes as sombras

Voar é preciso

Mesmo presos


a este chão

baço e conspurcado

onde a utopia


jaz mutilada

pela indiferença



V. Solteiro, 30.04.06

A criação do mundo

"Os realistas fazem as pequenas coisas, e os românticos as grandes. Para se ser gerente de uma fábrica de tachas, tem de se ser realista.
Para se gerir o mundo, tem de se ser romântico.
Só um realista pode encontrar a realidade; só um romântico a pode criar."

Fernando Pessoa

Ecotopia: justiça social e ambiental


O Ecotopia é um acampamento anual de activistas de toda a Europa e um encontro aberto a todas as pessoas interessadas em questões ambientais e de justiça social.
Este ano, a 19ª edição do Ecotopia irá decorrer no Sul de Portugal - Aljezur - de 4 a 19 de Agosto. "As Migrações" são o tema principal deste ano, que terá especial relevância nos dias 10, 11 e 12 de Agosto, sendo os restantes dias abertos a outras temáticas.

Inscrições e mais informação em:

http://www.ecotopiagathering.org/ajuda.html

Morre-se como chama que tropeça no súbito escuro...

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"Vivemos por um triz, morre-se como chama que tropeça no súbito escuro."

Mia Couto, escritor e biólogo, na sua autobiografia, cujos excertos foram publicados no Jornal de Letras, edição de 15-28.03.2006

Um pequenino grão de areia...

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Existirá maior loucura do que esta, que é vivermos sabendo que a morte nos espera em cada porto como se fôssemos uma onda tresmalhada que tem perfeita noção que suspirará pela última vez quando se entregar completamente ao areal?
E, no entanto, existirá maior grandeza do que esta, que é vivermos procurando a felicidade em cada minúsculo grão de areia?

Sonho

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Um rumor

de cascos

rasga


o voluptuoso

manto da noite

e vem repousar

fatigado

na superfície


da memória



O rosto da lua


escondeu-se

nos interstícios


dos dedos

a pensar nos rios


que amanhã

continuarão


a beijar o fundo

do mar



Há qualquer coisa


fugaz

à deriva


nesta tela

de improbabilidades



Um grão de areia

transfigura

radicalmente

o quadro mental

polvilhando


a pele

de novos


e inquietantes

silêncios



Pelas frestas


do pensamento

entra


um fiozinho de luz

e todo o real


volta a ser o que era


ininteligível


V. Solteiro, 24.07.06

Desencantar brilhos entre a terra suja...

"Ainda hoje encontro inspiração nessa habilidade de desencantar brilhos entre a terra suja (...)."

Mia Couto, escritor e biólogo, na sua autobiografia, cujos excertos foram publicados no Jornal de Letras, edição de 15-28.03.2006

Vive-se um excessivo conforto pantanal


"Se por um lado é bom que os escritores tenham perdido o discurso panfletário preconceituoso, alguns dos novos pecam por defeito: não parecem ter ideias ou um pensamento à volta daquilo que fazem. A obra em si não tem que ser político-ideológica. Mas acho importante que os criadores tenham um discurso e levantem questões sobre o seu país. Vive-se num excessivo conforto pantanal, que é um desconforto para quem cria. Numa altura de crise deveria haver movimentos mais explícitos de agitação, mas está tudo cinzentão, quieto. Passada a discussão ideológica da revolução, entrou-se num período de chatice, suspensão, parêntesis, demasiado pobre. Falta-nos descobrir qual é o outro patamar."


Jacinto Lucas Pires, escritor, realizador e músico, in Jornal de Letras, 15-28.03.2006

Sem pão nem sol de roupa...




"Dia de chuva na cidade
triste como não haver liberdade.

Dia feliz
com varões de água
a fecharem o mundo numa prisão.
E alguém a meu lado com voz múrmura que diz:
"está a cair pão".

Ah! que vontade de gritar àquela criança seminua
sem pão nem sol de roupa:
"Eh! pequena! Deita-te na rua
e abre a boca..."

(Dia em que urdo
este sonho absurdo.)"


"Café/XXVIII", poema de José Gomes Ferreira, Porto, 1900-1985

http://pt.wikipedia.org/wiki/José_gomes_ferreira

A pior forma de tirania...



"As leis mal feitas constituem a pior forma de tirania."

Edmund Burke, 1729-1797, Estadista irlandês

O dinheiro não se come...



"Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come."

Greenpeace

Jorge Palma: o homem dos nós e dos laços...

Liberdade, que o despotismo acérrimo condena...



"Liberdade querida, e suspirada,
Que o despotismo acérrimo condena;
Liberdade, a meus olhos mais serena
Que o sereno clarão da madrugada:

Atende à minha voz, que geme e brada
Por ver-te, por gozar-te a face amena;
Liberdade gentil, desterra a pena
Em que esta alma infeliz jaz sepultada.

Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,
Vem, oh consolação da humanidade,
Cujo semblante mais do que os astros brilha:

Vem, solta-me o grilhão de adversidade;
Dos céus descende, pois dos céus és filha,
Mãe dos prazeres, doce Liberdade!"

"Liberdade Querida, E Suspirada", poema de Bocage, Setúbal, 1765-1805

Mafalda Arnauth: a voz da ternura

Aqui, no meio de nós...

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"Uma pequenina luz

bruxuleante e muda

como a exactidão


como a firmeza

como a justiça.

Apenas como elas.

Mas brilha.

Não na distância.

Aqui.

No meio de nós.

Brilha."


Jorge de Sena, poeta, ensaísta, professor universitário


http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_de_sena

Deriva



Uma gaivota

lunática

risca o céu

à procura


do seu norte


Paciente

um lobo

sonda a noite

com olhos


de menino


Uma melodia

de Verdi

refulge


nos ramos

da pauta

com o impulso

do vento


Como viandante

indocumentada

ela busca o silêncio


que ilumina a deriva


Um estranho

corpo

reclina-se

sobre os muros


do quotidiano


As sombras

erguem brumas

que navegam


o pensamento




V.Solteiro, 21.07.07


Necrocombustíveis


" Estudo da OCDE e da FAO, divulgado a 4 de Julho, indica que 'os biocombustíveis terão forte impacto na agricultura entre 2007 e 2016'. (...) Vamos alimentar carros e desnutrir pessoas. Há 800 milhões de veículos automotores no mundo. O mesmo número de pessoas sobrevive em desnutrição crônica. O que inquieta é que nenhum dos governos entusiasmados com os agrocombustíveis questiona o modelo de transporte individual, como se os lucros da indústria automobilística fossem intocáveis. (...)."


Frei Betto, escritor, autor, entre outros livros de "Calendário do Poder", in
Correio Braziliense, 20.07.07

http://www.ecodebate.com.br/Principal_vis.asp?cod=5827&cat

Maresia

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Dos dedos
brotam claves
que beijam a lua

Dos lábios
nasce o rumor
de águas límpidas

Dos cabelos
irradia
uma luz suave
e cristalina

Dos braços
cresce
uma tímida
e misteriosa
alba

que enlaça
o meu corpo
até ele se desvanecer
em maresia


V. Solteiro, 01.03.06

Um povo não é livre em águas mornas...

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"Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.

Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.

Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.

Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo."


"Soneto do Trabalho", de José Carlos Ary dos Santos, Lisboa 1937-1984

O tempo, esse grande escultor


"O tempo, esse grande escultor, como escreveu Yourcenar, acaba sempre por condenar os que, en nome de princípios e valores, elegem o irracionalismo como critério supremo da verdade."

Fernando Paulouro das Neves, in "Jornal do Fundão"

Pessoas de lixo

"Trash People" (Pessoas de Lixo) é o nome de uma exposição itinerante da autoria do artista alemão HA Schult que consiste em esculturas de lixo em forma de pessoas. A exposição é um protesto contra a sociedade de consumo.

Os novos gaibéus...



" (...) A globalização, como espaço de equidade, de solidariedade, e paradigma da liberdade, desprotege, cada vez mais, os desfavorecidos, além de atingir, com singular violência, a "classe média". Os novos gaibéus são, também, licenciados, cientistas, intelectuais, investigadores; e jovens e jovens e jovens. (...) Os nossos dirigentes políticos não possuem talento nem grandeza para criar condições de vida aceitáveis. A sua mediocridade exultante é típica do populismo autoritário, que deixa de lado as mais vivas expressões da realidade social. Portugal é, de novo, um país gaibéu."


Baptista Bastos, escritor e jornalista, in DN, 18.07.2007


http://dn.sapo.pt/2007/07/18/opiniao/os_novos_gaibeus.html


http://pt.wikipedia.org/wiki/Gaibéus

Se...



"Se um dia não houver fome, sede, nudez, ignorâncias, secas no nordeste, guerras no Vietname, se, por uma feliz oportunidade, a ciência, a técnica, o bom senso, o sentido da realidade, contra tudo e contra todos, resolverem estes problemas, de que viverá esta gente? Se um dia não tivermos apelos exteriores, seremos capazes de procurar e encontrar em nós próprios a fonte inesgotável do amor e da criação que existe espontânea e unilateral no fundo de cada um de nós?"

António Alçada Baptista, ensaísta



Olhos no Darfur


Sensibilizar o mundo para as gravíssimas violações dos direitos humanos que vêm sendo - de há anos a esta parte e sem fim á vista - perpetradas na região do Darfur, no Sudão, é um dos objectivos que levaram a Amnistia Internacional a criar um site denominado Eyes on Darfur (Olhos no Darfur). Através das imagens de satélite disponibilizadas, é possível constatar o grau de destruição e do desastre humanitário que ali se vive e quais as aldeias mais vulneráveis aos ataques das milícias.
A finalidade premente desta campanha é prevenir mais ataques e pressionar o governo do Sudão para que permita o acesso àquela região de uma força de paz da ONU, medida na qual a comunidade internacional - nomeadamente, os países mais poderosos - nunca estiveram verdadeiramente empenhados em fazer cumprir...

http://www.eyesondarfur.com/

Festival Andanças


De 30 de Julho a 5 de Agosto, a aldeia de Carvalhais, São Pedro do Sul, irá ser palco para mais uma edição do Festival Andanças. Uma organização da Pé de Xumbo. Um evento imperdível para quem gosta de dança, música e arte popular. Confira o rico e diversificado programa aqui:


Um horizonte de catástrofe



"Há uma espécie de horizonte de catástrofe contra o qual se deve combater, e contra o qual só há uma arma, que é a da reflexão."

Yvette Centeno, escritora

Portugal pinado



"(...) A filosofia em vigor com este Governo pode ser exemplarmente definida por uma frase daquele senhor que usa a alcunha de ministro do Ambiente, referindo-se às autorizações dadas para a construção de milhares de camas turísticas em áreas da Rede Natura na costa alentejana: “Não fazemos dos valores naturais um obstáculo ao desenvolvimento económico”. Está tudo dito: é impossível ser-se mais claro. E aterrador (...)."

Miguel Sousa Tavares, escritor e jornalista, in Expresso, 13.07.2007

http://semanal.expresso.clix.pt/1caderno/opiniao.asp?edition=1811&articleid=ES261585

Via http://ondas3.blogs.sapo.pt

Sorrir perante a desgraça...


"O que é preciso é alcançar a serenidade de uma vida já sem ilusões, a aceitação quase sorridente da desgraça, a sabedoria plena."

Augusto Abelaira, escritor

Letras transviadas


"(...) tu, esquadrinhando os sinais da minha caligrafia
e descobrindo na areia do caderno
as letras transviadas que procuravam a tua boca."


Excerto de "Soneto XXXVI", de Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor", Edição Campo das Letras

A morte pasmada...


"Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora
e os homens pasmavam de isso ainda acontecer no tempo deles,
parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.

A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
tão brancos como se as dentaduras fossem novas."


"Poema da Morte Aparente", de António Gededão, in "Linhas de Força"

A ameaça das sombras...


"Não sei que beleza encontram no amanhecer - disse Markovic de súbito. - Ou no pôr-do-sol. Para quem viveu uma guerra, o amanhecer é sinal de céu turvo, de indecisão, de medo do que irá acontecer...E o entardecer é ameaça das sombras que chegam, escuridão, coração aterrorizado. A espera interminável, morto de frio num buraco, com a culatra da espingarda colada à cara..."

in "O Pintor de Batalhas", de Arturo Pérez-Reverte, edições ASA

Uma orquestra sem maestro



"O cérebro é como uma orquestra que funciona sem maestro, mas com um grande naipe de músicos."

António Damásio, investigador e professor universitário

Bernardo Sassetti: um contador de histórias


Pelas atmosferas que criou e pelas imagens que desfiou, ele podia ter sido pintor, escritor ou, quiçá, realizador de cinema. Aqui para nós que ninguém nos ouve - ainda bem que tal não aconteceu!...
Chegou tímido e cabisbaixo por entre a penumbra e as sombras que os dois focos de luz produziam. A sua voz, tal como as suas mãos, agarravam com insegurança o microfone com que se apresentava a um público heterógeneo que preenchia por completo o auditório da Academia de Música de Espinho.
Com uma humildade desarmante, confessou-se um intérprete que gosta da liberdade total de criar e recriar e que se sente muito bem quando tece variações e improvisações sobre as obras.Titubeante, agradeceu o convite formulado para participar no Festival internacional de Música de Espinho e, já sentado frente ao piano, ainda complementou: "Ah!, esqueci-me de dizer - esta sala é magnífica!".
Depois, bem, depois submergiu-se completamente no piano como se homem e instrumento fossem um só. E libertou-se. Com esse fiel companheiro e com as suas mãos de andarilho de ritmos e de ambientes, levou-nos a lugares e povoados nunca dantes calcorreados, prenhes de bulício, de cores, de sons, de vida, enfim, de tempo.
Hora e meia depois voltou à tona da noite. Renovado. Depois de nos ter presenteado com uma viagem musical onde coube quase tudo: desde lances de experimentação pura na cauda do piano até composições com um cherinho a fado ou um toque de bossa nova.
Que não restem dúvidas: Bernardo Sassetti só se sente completamente à vontade quando as suas mãos falam com as teclas e as cordas do piano e este, amigo de infindáveis caminhos, lhe relata as peripécias que compõem o seu álbum de recordações.
Um contador de histórias é o que ele é!

O sentido da vida


"Tenho um desejo profundo de que haja algum sentido na vida. Por isso admiro muito os que têm certezas e lutam por elas, com fidelidade, com honestidade."


Matilde Rosa Araújo, escritora

Era um redondo vocábulo...

O murmúrio dos lábios...



"Quando a morte vier, meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e às nossas mãos a carícia dispersa;
relembremos o dia impossível,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuímos;
deixemos à poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos então, naturalmente..."


"Quando a morte vier", poema de Tomaz Kim, in "Dia da Promissão"